Você sabia que a cada quatro horas, no Brasil, uma pessoa com mais de 55 anos morre vítima do consumo abusivo de álcool? Pode parecer chocante, mas essa é a realidade de milhares de famílias que enfrentam a dor de ver um ente querido perder a vida por conta de uma dependência que, muitas vezes, é ignorada ou subestimada.
Esses números não são apenas estatísticas frias. São vidas interrompidas de pessoas que, talvez, pudessem ter tido mais tempo para viver, mais tempo para aproveitar com os familiares e mais tempo para cuidar da saúde. O álcool, que em muitos casos é consumido como uma forma de prazer, também pode ser um grande inimigo, principalmente à medida que envelhecemos.
O que o estudo do Centro de Informações Sobre Saúde e Álcool (Cisa) revela é alarmante. A cada ano, o número de mortes relacionadas ao consumo de álcool cresce entre as pessoas acima de 55 anos. A taxa de internações aumentou significativamente nessa faixa etária, passando de 22% para 35% no total de internações atribuídas ao álcool que levaram a óbito nos últimos dez anos. Mas, você pode se perguntar: por que isso acontece? O que torna esse grupo etário mais vulnerável ao álcool?
A resposta está na própria condição de envelhecimento do corpo. Com o tempo, nosso organismo se torna mais vulnerável a doenças e, quando a dependência do álcool se instala, ela pode acelerar o processo de deterioração da saúde. Cirrose, hipertensão, complicações hepáticas, além de problemas de saúde mental, como depressão, são algumas das condições frequentemente associadas ao consumo excessivo de álcool. Isso sem contar que, com o passar dos anos, o corpo já não tem a mesma capacidade de se recuperar de uma intoxicação ou de combater os danos causados pelo abuso dessa substância.
Mariana Thibes, doutora em sociologia e coordenadora do Cisa, explica que o álcool vai, pouco a pouco, tornando o organismo mais frágil, levando ao agravamento de condições já existentes. Isso, claro, aumenta as chances de falecer devido ao abuso de bebidas alcoólicas. Se você parar para pensar, o álcool é uma doença silenciosa, que se instala aos poucos e vai deixando suas marcas. É uma doença que não escolhe classe social, profissão ou nível de instrução. Ela vai afetando quem menos se espera.
Agora, você pode se perguntar: se o consumo de álcool é menor entre os mais velhos, como é possível que eles representem o maior número de mortes? A explicação está no fato de que o risco é muito maior para essa faixa etária. Se você tem mais de 55 anos, seu corpo não reage da mesma forma ao álcool que alguém mais jovem. Isso torna o consumo mais perigoso e os danos mais irreversíveis. Você sabia, por exemplo, que, para a Organização Mundial da Saúde (OMS), qualquer pessoa que consuma 60 g ou mais de álcool puro em pelo menos uma ocasião no mês, já está fazendo uso abusivo? Isso equivale a cerca de 4 doses de bebida ou mais.
Aqui, o problema vai além do simples consumo. Ele está nas consequências que podem ser evitadas, mas muitas vezes não são. O estudo revela que, apesar de o número de mortes por alcoolismo ter diminuído de 2010 para 2023, o risco de falecer continua sendo altíssimo para os mais velhos. A população acima de 55 anos, embora tenha um consumo inferior ao de pessoas mais jovens, apresenta uma mortalidade muito mais alta, devido à combinação do alcoolismo com os efeitos naturais do envelhecimento.
É por isso que é tão importante estar atento. O álcool não deve ser tratado apenas como algo de “jovem”. O consumo excessivo entre os mais velhos é uma bomba relógio, que pode causar sérios danos à saúde e até matar de forma silenciosa. E como você pode perceber, a maioria dos idosos não consome álcool de forma excessiva. A questão está na vulnerabilidade do corpo. O risco é maior para quem já tem um organismo mais fragilizado.
Como as pessoas mais velhas podem lidar com isso? Mariana Thibes aponta a importância de um diagnóstico precoce. Muitas vezes, a dependência não é detectada logo de início, e as consequências vêm de forma gradual. Isso significa que, se os profissionais de saúde conseguirem identificar precocemente o consumo nocivo de álcool, poderão intervir de forma mais eficaz, evitando que a situação evolua para um quadro mais grave e irreversível.
Além disso, é essencial que as famílias estejam atentas e ajudem seus entes queridos. Se você tem um familiar que tem mais de 55 anos e consome álcool de forma regular, é fundamental que você observe os sinais e procure orientação. Talvez seja necessário ajudá-lo a buscar apoio em grupos de aconselhamento ou até em clínicas especializadas. Mas, acima de tudo, a compreensão e o apoio familiar são essenciais. A doença do alcoolismo precisa ser tratada com seriedade e empatia, porque não se trata apenas de um problema físico, mas também emocional.
É verdade que, ao longo dos anos, o número de internações por problemas relacionados ao alcoolismo diminuiu em todo o Brasil. De 112 mil internações em 2010, o número caiu para 50 mil em 2023. Isso é um reflexo da maior conscientização e de uma mudança na forma como a sociedade encara o álcool. No entanto, as mortes ainda são altas, e a pesquisa revelou que 3.202 brasileiros perderam a vida devido ao alcoolismo em 2023. Isso é inaceitável, principalmente considerando que muitas dessas mortes poderiam ter sido evitadas.
Você, que está lendo agora, pode estar se perguntando o que pode fazer para evitar que isso aconteça com alguém de sua família. A resposta é simples: observe. Esteja atento aos sinais de que o álcool pode estar tomando o controle da vida de alguém. Não subestime o poder dessa substância, especialmente à medida que a idade avança. O risco é real, e a intervenção precoce pode ser a diferença entre a vida e a morte.
É importante lembrar que, embora a mortalidade por alcoolismo tenha diminuído, ela ainda é um grande problema. E é justamente por isso que todos nós devemos estar mais atentos, mais preparados para identificar esse problema, e mais dispostos a oferecer ajuda.
Então, da próxima vez que você perceber que alguém de sua família está bebendo demais ou que há sinais de que o álcool está afetando a saúde de um ente querido, lembre-se: a ação rápida pode salvar vidas. Não deixe para depois o que pode ser resolvido agora. As consequências do abuso de álcool podem ser devastadoras, especialmente para quem já tem uma saúde mais fragilizada com o passar dos anos.
Não espere que a situação piore. A conscientização, a ação e o apoio familiar são as chaves para evitar que mais vidas sejam perdidas de forma tão desnecessária. O álcool não deve ser um fardo que você e sua família precisem carregar por mais tempo. E, se você ou alguém próximo a você está enfrentando essa luta, saiba que a ajuda está disponível, e a intervenção precoce é o melhor caminho para a recuperação.
Lembre-se, não se trata de um problema individual, mas de uma questão de saúde pública. O que você faz hoje pode ter um impacto profundo na vida de alguém amanhã. E, se você agir agora, pode evitar que a dor e o sofrimento de muitas famílias aumentem ainda mais.
É hora de agir.
Com informações Folha de S.Paulo