Você já parou para pensar no quanto a saúde mental é fundamental na sua vida? A perda gradual das funções cognitivas, como a memória, o raciocínio, a percepção e a capacidade de se planejar, não é algo distante ou abstrato. Pode ser algo que te afeta, a alguém que você ama, ou até mesmo alguém próximo que está lidando com isso de forma silenciosa. Pois é, o que muitos não sabem é que as demências, que afetam um número crescente de pessoas ao redor do mundo, são muito mais comuns do que imaginamos e podem ser prevenidas.
Recentemente, um documentário sobre Maurício Kubrusly, lançado no Globoplay, trouxe à tona a dura realidade de quem enfrenta uma dessas condições. Kubrusly, aos 79 anos, com a saúde já comprometida pela demência frontotemporal, é um exemplo de como essa doença afeta as pessoas que, no auge de suas carreiras e experiências de vida, acabam vendo suas capacidades cognitivas serem drenadas. E você sabia que essa mesma doença também atingiu o ator Bruce Willis, famoso pelo seu papel em “Duro de Matar”? Isso sem contar outras figuras como Ronald Reagan, ex-presidente dos Estados Unidos, diagnosticado com Alzheimer, e o carismático Robin Williams, que lutou contra a demência por corpos de Lewy.
Você provavelmente conhece alguém que já passou ou ainda passa por essa luta. Ou quem sabe você mesmo está lidando com algo similar. O ponto é que as doenças que envolvem a perda de funções cognitivas, chamadas de demências, estão mais presentes do que você imagina, e é crucial entender o que são e como podemos agir para preveni-las.
Mas o que, de fato, é demência? Não se trata apenas de esquecer coisas pequenas, como onde você deixou as chaves, ou o nome de um conhecido que acabou de te cumprimentar. Demência é quando há uma perda significativa de habilidades cognitivas já adquiridas. Marcelo Valadares, neurocirurgião funcional e pesquisador da Unicamp, define que isso inclui desde o raciocínio, a capacidade de planejar, de fazer cálculos, até a perda de memória, percepção visual e auditiva. E mais: ela pode afetar até mesmo a sua habilidade de executar tarefas cotidianas, como cozinhar, dirigir ou até tocar aquele instrumento musical que você ama.
A demência não se resume à perda de memória, como muitos pensam. Claro, a memória é afetada, mas o impacto vai além disso. Imagine alguém que já foi um ótimo cozinheiro, mas de repente, não consegue mais fazer as refeições corretamente. Não porque esqueceu a receita, mas porque as funções motoras e o raciocínio foram prejudicados. Isso acontece com pessoas que, em um dia qualquer, podem perder a capacidade de dirigir ou de reconhecer onde estão, como um simples lapso que vai se tornando cada vez mais evidente.
E, talvez, você já tenha notado alguns sinais em alguém que conhece. É comum, inclusive, que pessoas entre 35 e 50 anos se queixem de esquecimentos cotidianos. Mas, atenção, isso nem sempre é indicativo de demência. Muitas vezes, o estresse, a rotina excessiva e até a qualidade do sono podem nos afetar mais do que imaginamos. Ou seja, nem tudo é o que parece à primeira vista, e é fundamental fazer a distinção entre o que é um simples esquecimento e o que pode ser um sinal de algo mais sério.
Mas, se você está se perguntando se há algo que possa ser feito, a resposta é sim. Demências podem ser prevenidas, e, para isso, o estilo de vida tem um papel crucial. Segundo um estudo publicado na revista The Lancet, quase metade dos casos de demência no mundo poderiam ser evitados ou adiados se interagíssemos com 14 fatores de risco. Vamos dar uma olhada neles? Entre os principais estão:
- Baixo nível educacional: A educação ao longo da vida mantém o cérebro ativo e saudável.
- Colesterol alto e hipertensão: São fatores que afetam diretamente a saúde cardiovascular, e, consequentemente, o cérebro.
- Excesso de álcool e tabagismo: Ambos afetam a função cognitiva e aumentam o risco de doenças neurodegenerativas.
- Diabetes: A condição altera a forma como o corpo usa a glicose, afetando funções cognitivas.
- Falta de atividade física e contato social: Manter o corpo em movimento e o cérebro desafiado são essenciais.
- Lesões graves na cabeça, obesidade e até poluição do ar: Fatores que, muitas vezes, ignoramos, mas têm grande impacto no cérebro.
Agora, se você quer proteger a sua saúde cerebral e evitar que a demência bata à sua porta, o segredo está nos hábitos diários. E, ao contrário do que muitos pensam, não é preciso fazer mudanças drásticas. Com pequenas atitudes, você pode se blindar. Veja só:
- Atividade física regular: Não precisa ser um maratonista, mas é essencial movimentar-se. Tente, por exemplo, praticar de 150 a 300 minutos de exercício por semana. Não importa a idade, o importante é movimentar o corpo.
- Cuide do coração: O cérebro e o coração andam juntos. Faça exames regulares de colesterol, pressão arterial e glicose no sangue. Caso tenha diabetes ou hipertensão, procure manter o tratamento sob controle.
- Desafie seu cérebro: Aprenda algo novo! Se envolva com atividades que estimulem sua mente: aprenda um novo idioma, jogue xadrez ou até aprenda a tocar um instrumento musical. O importante é nunca deixar o cérebro “parar”.
- Mantenha sua vida social ativa: Isso não significa sair para festas todos os dias, mas, ao menos, mantenha contatos com amigos e familiares. As interações sociais são cruciais para a saúde mental e emocional.
- Alimente-se de forma saudável: O cérebro, assim como qualquer outro órgão do corpo, precisa de uma alimentação equilibrada. Aposte em frutas, legumes, verduras e evite o consumo excessivo de alimentos ultraprocessados.
E, por fim, não se deixe enganar por promessas de soluções milagrosas. Tratamentos e curas falsas podem ser tentadoras, mas a verdade é que, para prevenir ou adiar a demência, o que realmente importa são os cuidados diários com a saúde. Cuidar de si mesmo, ter um estilo de vida saudável e ativo, são as armas mais poderosas para garantir que você viva com qualidade, e, claro, com saúde mental preservada.
A idade, infelizmente, é um fator de risco para demências, mas ela não é algo que possamos controlar. O que podemos controlar, sim, são as nossas atitudes diárias. Não deixe para amanhã o que você pode fazer hoje para cuidar da sua saúde mental. A prevenção começa agora.
Com informações Folha de S.Paulo